2.08.2011

Carta

Diria que tens uns quantos traços quase grotescos, que não soubeste envelhecer com graciosidade - vejo a tua expressão transformar-se enquanto digo isto. Como é que, passado todo este tempo, ainda não consegues perceber que isso não é minimamente relevante?!
Às vezes ainda pareces aquele miúdo inseguro que, não tendo conhecido, vejo nas fotos de Verão que vou encontrando pelos cantos da casa.
Já o teu olhar! ... O teu olhar tem algo de profundamente marcante, indecifrável e foi essa força que me seduziu logo que te vi - que me deu vontade de saber de ti.
Começaste a falar e desmistificaste as pré-concepções.
Sabes que é difícil para mim acreditar em sinais, mas talvez alguns olhares se cruzem mesmo por alguma razão. Sei que, depois de nos fixarmos com a curiosidade de quem deseja ver para além das máscaras quotidianas, acabámos por nos perder em conversas.
A ideia de intangibilidade que até então me tolhera cedeu, diluímo-nos numa cumplicidade visceral ... Longe da perfeição, encontrámo-nos na sede de ideias, imagens e de partilha, por vezes tumultuosa.
Serás sempre tudo menos linear, mas é nessa complexidade e confiança que reside o teu magnetismo - oscilando entre o menino endiabrado e o homem capaz de perceber as minhas singularidades e agarrá-las com um olhar -, sem que consiga definir-te de forma mais concisa, nem explicar aquele primeiro momento.
Com o passar do tempo também percebi a irrelevância dessa resposta.

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