1.27.2011

Monólogos II

Desde cedo, ser o centro das atenções fora o seu objectivo. Nunca tentou escudar-se em falsos bons intentos para explicar esse protagonismo que procurava, simplesmente limitava-se a reconhecer essa espécie de poder magnético e a usá-lo em seu favor. Sabia dos seus “encantos” e servia-se deles para colmatar as suas inseguranças, para construir certezas temporárias que sempre tinham de ser renovadas a cada passo, de tão frágeis.
Sabia que diziam ser fútil, a típica “cara bonita” – ingénuos aqueles que mais não conseguiam ver do que o seu bambolear hipnótico – mas também não era para saberem dos seus olhos profundos que as cabeças se viravam para a cumprimentar.
Ao “público” dá-se aquilo que ele deseja ver, aquilo que ele está preparado para aceitar e digerir. Foi essa aguda consciência que a fez escolher aquele vestido vermelho bem escuro e, mais uma vez, retocar a maquilhagem.
Esplêndida entrou no salão, as conversas cessaram subitamente e sentiu o peso dos olhares concentrados nela, tal como perspectivara. Sorriu, mostrando os seus dentes pérola debruados pelo vermelho perfeito dos seus lábios.
O sorriso angelical que contrastava com a sua voluptuosidade era o motivo do burburinho que logo invadiu a sala.
O latente mistério dos seus olhos, porém, denotava uma inquietude que apenas poderia escapar aos que, julgando-a fútil, eram eles próprios superficiais e não conseguiam ver nela o reflexo da sociedade que promoviam, de tão seguros do seu intelecto.

2 comentários:

K disse...

Hmmmm...isto faz-me lembrar parte das nossas conversas...;)

(escreves bem mulher! gostei!)

Cat disse...

=)obrigada ... as conversas tinham de dar nalguma coisa, se não é em respostas, é em produção escrita!