1.13.2011

Deliciosamente Errado

“(...) Querem alguém que lhes crie vontade de mudá-los. E para querer mudá-los, algo tem de estar deliciosamente errado à partida. É aquilo que está errado nas pessoas por quem nos apaixonamos – o orgulho, o egoísmo, a personalidade, a teimosia, a mania que manda e tudo mais – que nos faz apaixonarmo-nos por elas. Quem quer apenas um “companheiro” torna-se sócio de um clube de campismo ou de bridge”, Miguel Esteves Cardoso

    Procuras realmente na outra pessoa sarna para te coçares?!
    Se calhar é precisamente isso que procuro... “Mas estás parva? Será que não vês o quão estúpido é, sabendo tu desses defeitos, ainda assim, deixares-te envolver?”, dizem-me. Geralmente respondo: “E quê?”, em última instância é a mim que cabe a decisão e sou eu a arcar com as suas consequências, portanto, porque não tomar a meu cargo um projecto ambicioso?!
    Acresce que me reconheço alguma superioridade moral e, como tal, é legítimo pensar que posso efectivamente mudar alguém. (Silêncio sepulcral) Não … estou a brincar. Realmente, limito-me a reconhecer que me incluo no grupo dos orgulhosamente parvos, de feitio terrível que amuam e dedicam grande parte dos seus dias a morder o seu próprio rabo, cultivando com amor a sua “neura” e alimentando-a com hipóteses inviáveis.
    Consequentemente, onde haja uma personalidade problemática, lá estarei a analisar, deliciada, todos os defeitos e disfuncionalidades, tirando notas. No fundo, o modus operandi é o dum biólogo que, objectivamente, analisa os espécimes à sua volta, exclui aqueles que a ciência já documentou e fica apenas com os restantes, os estranhos … com carinho, apelido-os de milagres da natureza – os realistas chamar-lhes-iam aves raras, ou, nos casos mais extremos, bicheza miúda.
    Adoro os pequenos e os grandes defeitos!
    Claro está que acabo por coleccionar uma série de personagens que não têm ponta por onde se lhe pegue e para as quais não há remédio - sobretudo porque a sua teimosia em não mudar é directamente proporcional à minha crença na sua mudança.
    Todavia, se o basófias fosse mais contido e percebesse que todos sabem que ele é faroleiro, se o infantil compreendesse que tem de largar os cueiros e cortar laços, para assim crescer, se o pessimista fizesse algo pela vida, ao invés de se queixar do seu azar kármico, e o traumatizado se deixasse de merdices, seriam perfeitos.
    Mas já são "se's" a mais ... o que me lembra o que uma pessoa, um dia, muito prosaicamente me disse: "Se a minha avó tivesse rodas era uma camião"! 

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