"Existe a maior diferença entre julgar uma opinião como sendo verdadeira, visto que, com todas as oportunidades para a sua contestação, não foi refutada e presumir a sua verdade com o fim de não permitir a sua refutação.
(...)
A vantagem real que a verdade possui é que quando uma opinião é verdadeira pode ser sufocada uma, duas ou muitas vezes, mas no decorrer dos tempos encontrar-se-ão pessoas que tornarão a descobri-la até que alguma das suas reaparições seja feita numa época onde, devido a circunstâncias favoráveis, escape à perseguição e tenha oposto tal frente que resista a todos os ataques subsequentes tendentes a eliminá-la.
Dir-se-á que presentemente não condenamos à morte os introdutores de novas opiniões; não somos como os nossos pais, que chacinaram os profetas; construímos até mesmo sepulcros para eles.
É verdade que deixámos de condenar os hereges à morte; e o grau de aplicação penal que os sentimentos hoje tolerariam, possivelmente, mesmo contra as opiniões mais ofensivas, não é suficiente para as eliminar.
Não nos elogiemos, porém, considerando-nos já libertos da mácula da perseguição legal. Ainda existem punições por lei para a opinião ou, pelo menos, para a sua expressão, e a sua aplicação não é, mesmo nestes tempos, tão sem precedentes que leve a crer que algum dia não possam ser renovadas violentamente."
John Stuart Mill, Da Liberdade de Pensamento e de Expressão
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