"Talvez por isso não se casou, os homens querem conversa.
Nem todos: recorde-se de passagem aquele outro caso de um moço camponês, o Mudo, que andou tempos largos amargando a faina, atento a ordens, lamentos e cantares, mexendo a cabeça para sins e nãos, os ombros para dizer não sei, respondendo de sorriso ou aceno às saudações, adeus ó Mudo. E veio aquele dia igual aos outros dias em que os homens se sentaram de roda para matar o cansaço e a sede, o cântaro passando de mão em mão. Por acaso o Mudo seria o último, e o penúltimo alambazou-se em grandes goladas. Chateado, o Mudo disse: Não a bebas toda! Olhou-o a roda num silêncio embasbacado, por fim perguntaram, mas então tu não és mudo?, e por que raio não tinhas falado nunca? - e o Mudo explicou: Ora, nunca tinha precisado."
Mário Zambujal, À noite logo se vê
Talvez a palavra oral seja mesmo sobrevalorizada ... amanhã vou testar o potencial da linguagem corporal.
2 comentários:
não resulta, por alguma coisa o mudo foi o último a beber...
mas chateio-me menos do que se der pérolas a porcos .. o silêncio é uma virtude! =) tudo tem os seus pontos positivos
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