2.22.2011

Estevas


Para quem se preocupa com o estado do meu nariz, voltou a cheirar a esterco à porta de minha casa. Enviem-me uma equipa especializada para tratar do assunto, por favor!
Quem me dera que me cheirasse a campo cada vez que entro ou saio de casa, ao invés deste cheiro pestilento que parece piorar a cada dia!

2.18.2011

Ele há cada ideia ...

Há ideias brilhantes que me espantam pela improbabilidade e pelos subterfúgios que o autor engendra para as justificar. Aqui ficam alguns exemplos:

   - Deitar abaixo um olival centenário (por contraposição a ir substituindo as árvores progressivamente), esquecendo-se que as oliveiras demoram anos a crescer e que o terreno em causa se tornaria um descampado. Sob a desculpa de o olival já não dar rendimento (que nunca foi a questão principal), esconde-se um erro crasso. Sempre será melhor o clássico argumento do "fica para os meus netos".
   - Decidir instalar aquecimento central no Inverno, nas hostis paragens de Trás-os-Montes, quando tal implica ficar sem lareira alguns dias e neva na Serra de Bornes. A única explicação plausível para esta ideia peregrina é existir um irrecusável desconto na instalação do material nesta agreste época do ano, o que, mesmo assim, não me parece atractivo suficiente para o homem médio.
   - Usar óculos de sol (graduados) em substituição dos "de ver" enquanto estes ficam no oculista para se trocarem as lentes. A ideia até poderia soar aceitável não estivéssemos no Inverno, com tempo encoberto e chuvoso, e não anoitecesse às seis da tarde - já para não falar que a ideia seria sempre descabida para quem passa o dia a ler e dispensa os óculos para poucas tarefas. A menos que se quisesse animar aquele que vê mal, mostrando-lhe que não ver de todo é bem pior (como se o miópe, que vê a sua graduação aumentar todos os anos mais do que desejaria, não o soubesse), não há qualquer explicação para esta sugestão.

Por agora termino esta lista de ideias insólitas, certa, porém, de que mais haverá para aqui relatar.

2.14.2011

2.13.2011

You Are My Sunshine



No outro dia estava a conduzir e no leitor de CD's tinha um que não costumo ouvir. Começaram a soar os primeiros acordes e nada me parecia familiar - um estilo ainda mais "retro" do que eu consigo ouvir e aquele som quase arranhado que lembra os vinis.
Até que ouço um verso - "You make me happy / When skies are grey" - que me intriga por ser tão familiar sem que a melodia me desse qualquer pista.
Quando, por fim, chegou o refrão, apercebi-me que era a "You are my sunshine", que me é tão familiar na versão do Ray Charles.

Gosto destas pequenas coincidências.


2.11.2011

Das Insólitas Formas de Amor

"Agora, Karenine já estava à espera na entrada, com os olhos pregados no cabide onde a coleira e a trela estavam penduradas. Tereza pôs-lhe a coleira e foram às compras. Comprou leite, pão, manteiga e, como sempre, um croissant para o cão. À volta, Karenine vinha ao meu lado, com o croissant na boca: todo inchado, olhava em torno de si, todo encantado por ser o alvo das atenções gerais e por saber que as pessoas passavam o tempo a apontar para ele.
Depois de chegar a casa, o cão ficava a espreitar à porta do quarto com o croissant na boca, à espera que Tomas se apercebesse da sua presença, se pusesse de gatas, começasse a rosnar e a fingir que queria tirar-lho. Dia após dia, repetia-se a mesma cena. Passavam uns bons cinco minutos a correr um atrás do outro pela casa toda, até que Karenine ia refugiar-se debaixo da mesa para devorar o seu croissant a toda a velocidade."

Milan Kundera, a insustentável leveza do ser

2.08.2011

Carta

Diria que tens uns quantos traços quase grotescos, que não soubeste envelhecer com graciosidade - vejo a tua expressão transformar-se enquanto digo isto. Como é que, passado todo este tempo, ainda não consegues perceber que isso não é minimamente relevante?!
Às vezes ainda pareces aquele miúdo inseguro que, não tendo conhecido, vejo nas fotos de Verão que vou encontrando pelos cantos da casa.
Já o teu olhar! ... O teu olhar tem algo de profundamente marcante, indecifrável e foi essa força que me seduziu logo que te vi - que me deu vontade de saber de ti.
Começaste a falar e desmistificaste as pré-concepções.
Sabes que é difícil para mim acreditar em sinais, mas talvez alguns olhares se cruzem mesmo por alguma razão. Sei que, depois de nos fixarmos com a curiosidade de quem deseja ver para além das máscaras quotidianas, acabámos por nos perder em conversas.
A ideia de intangibilidade que até então me tolhera cedeu, diluímo-nos numa cumplicidade visceral ... Longe da perfeição, encontrámo-nos na sede de ideias, imagens e de partilha, por vezes tumultuosa.
Serás sempre tudo menos linear, mas é nessa complexidade e confiança que reside o teu magnetismo - oscilando entre o menino endiabrado e o homem capaz de perceber as minhas singularidades e agarrá-las com um olhar -, sem que consiga definir-te de forma mais concisa, nem explicar aquele primeiro momento.
Com o passar do tempo também percebi a irrelevância dessa resposta.

2.07.2011

2.06.2011

O Raio da Constipação!

Cada vez que acordo às seis da manhã para tomar um comprimido apercebo-me de que a constipação deve ser das doenças mais estúpidas e não dignificadas que por aí andam: se, por um lado, não constitui motivo suficiente para faltar ao trabalho - vá, isso é só uma constipaçãozinha! -  não deixa de ter consequências altamente debilitantes. Veja-se: a minha pegada ecológica aumentou exponencialmente não só devido à necessidade de um aquecedor constantemente ligado, como aos vinte pacotes de lenços que diariamente consumo; farto-me de pôr creme mas nenhum é suficientemente eficaz para neutralizar o cieiro; já para não falar da hiper-sensibilidade à luz que faz com que pareça que ando a chorar todos os amores findos.
O ano passado, com o espectro da Gripe A, o constipado ainda podia aproveitar os sintomas para afastar umas quantas pessoas no autocarro - o olhar de pânico nas suas caras não me deixava propriamente feliz, mas não posso dizer que me desagradava aquela espécie de "terra de ninguém" que surgia à minha volta, permitindo-me uma viagem mais tranquila.
Todavia, este ano, o constipado já nem constitui um perigo público e, como tal, ninguém o respeita: não beneficia de isenções, não tem direito a um lugar no autocarro e ainda leva com os olhares de gozo dos demais que (ainda) não foram apanhados pela dita constipação.
Daqui concluo, em resumo, que a constipação, dada a sua irrelevância e a curta duração, não é bem uma doença, mas uma espécie de mimo, só curável com caldinhos quentes e festinhas, com um pouco de chantagem inofensiva à mistura.
Assim, é um desperdício estar constipado quando não se tem ninguém por perto para ouvir os nossos espirros mimalhos e aconchegar-nos o cobertor, essa que é a única regalia do constipado.

2.02.2011

Pensamento do Dia

"Não há forma nenhuma de se verificar qual das decisões é melhor porque não há comparação possível. Tudo se vive imediatamente pela primeira vez sem preparação. Como se um actor entrasse em cena sem nunca ter ensaiado."

Milan Kundera, a insustentável leveza do ser

Suponho que muitas foram as pessoas que se detiveram a pensar sobre este breve trecho ... A mim serviu-me de mote para este dia.